Quando a velocidade parece ser a marca dominante de um tempo, encontramos em S. João da Madeira uma série de unidades industriais que nos revelavam espaços e formas de trabalho, que podemos, hoje, considerar arcaicos, face a uma crescente mecanização dos processos fabris. Surpreende nestas unidades a presença do humano ausente. É o permanecer dos seus gestos em lugares abandonados que, ao longo de décadas, foram sempre repetidos. São uma série de marcas deixadas, indícios, que estabelecem uma perturbadora relação com a própria ideia da Fotografia, ao fixar um tempo que parou, em todos os seus ínfimos detalhes, inclusive o som, que quase o podemos ouvir no silêncio que nos envolve. São as máquinas que se parecem assumir como o prolongamento natural dos corpos dos operários. Indústria de face humana. As fábricas, ainda em laboração, pareciam confirmar esta ideia que encontrávamos nos espaços vazios. Um tempo e uma relação com a máquina, por vezes de grandes dimensões, que tende a desaparecer num progressivo distanciamento, para dar lugar a uma relação ‘higiénica’ como o trabalho.