Arquitectura

Inicio os estudos de Arquitectura na cidade do Porto. Era uma cidade nova para muitos de nós, o imponente tabuleiro de um tempo inaugural das nossas vidas, passado entre as salas de aula e o ouvir atento da generosidade de um grupo de professores que sonhava com a construção e o desenho de uma sociedade nova, espelhada na sublimação de um desenho arquitectónico depurado. Mas na rua havia uma realidade contraditória. Para todos nós terá ficado o processo, o método, a consciência dos passos sequenciais de um trabalho. Ficava a noção de um ofício alicerçado no desenho, nessa ferramenta poderosa que nos transporta e recria em mundo imaginado. Há momentos de um equilíbrio quase perfeito nas nossas vidas. O tempo continua entre um traço justo e desconstrução permanente.
Em férias demoradas percorria as mais isoladas serras de Portugal. Definia um habitar diferente de um espaço imenso. Procurava os caminhos da viabilização de um percurso profissional que paulatinamente ia construindo, entre a hesitação e a determinação quase obsessiva.
De oito meses intermináveis guardo a imagem de uma sociedade rígida e extremamente organizada, alicerçada na punição. Encontrava nas técnicas de combate de guerrilha em mato mediterrâneo, um curioso e pragmático uso da morfologia do terreno e do coberto vegetal. Na aprendizagem de uma forma descontrolada de medo e violência, encontrava com inesperada frequência a amizade de um olhar despojado.
Inicio a minha actividade em arquitectura, num desejado pragmatismo que se afastava um pouco dos tempos da aprendizagem. Era muitas vezes uma burocracia quase intransponível, que nos afastava do desenho procurado. Tento aproximar-me dessa prática projectual em numerosos concursos para diversos edifícios.

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