portugal
Placa de informação junto à fronteira de Barrancos, lugar fotografado por Orlando Ribeiro, em 1978.
Nas fotografias de Orlando Ribeiro há algo que relacionamos com a identidade de Portugal. Há um país que parecia eterno, aquele que associávamos a um passado lento e antigo, perene. De repente tudo parece ter-se alterado e, mesmo esse passado, parece estar a desaparecer. Havia uma arquitetura, dita popular, de enorme qualidade. Mas essa qualidade, de desenho, de uso dos materiais, era feita com aquilo que a terra dava e a terra dava pouco. O desenho era uma possibilidade de poucas opções, o que levou a arquiteturas e espaços urbanos de uma economia clarividente e inventiva, mas precária. Aqui percebemos a evolução das construções humanas e de uma luta ancestral, que é a de todos os seres vivos pela sobrevivência, não apenas do indivíduo, mas da espécie a que pertence. A inteligência, com a atual complexidade, não era conhecida na história da evolução da vida na Terra, e tem levado à tentativa de criação de espaços próprios e diferenciados em relação a uma natureza hostil. A contemporaneidade mostra-nos com grande clareza este processo de descolagem de que, creio, o mundo fotografado por Orlando Ribeiro foi a derradeira estação. As cidades, toda a imensa complexidade dos seus labirintos multidimensionais, são o exemplo mais acabado de um território quase exclusivamente humano, por oposição a esses espaços inaugurais da Natureza por nós habitados, na longa escala de um tempo muito para além da nossa evolução e desenvolvimento como espécie biológica. (p.301)