“Quando pela primeira vez entrei naquela casa em Vale de Lobos, num encontro marcado com Suzanne Daveau, sentira um grande fascínio. As leituras da obra de Orlando Ribeiro, a expressividade dos seus registos sobre a terra e uma escrita abrangente, fluída e literária, acompanhavam-me desde os primeiros tempos da faculdade, desde as primeiras viagens por um Portugal que começava a descobrir. Tinha recentemente passado cerca de dois anos a percorrer este território em recolhas fotográficas para o projecto Portugal — o Sabor da Terra, que desenvolvi com José Mattoso e Suzanne Daveau. Era agora assaltado por um sentimento de estranha ambiguidade. Parecia que, de um relance, ali encontrava Portugal inteiro, todos os seu s lugares além de outros espaços longínquos. Questionava-me sobre o sentido de dois anos de canseiras por um território que quanto mais percorria, menos parecia conhecer e que encontrava agora ali, num espaço contido, na espessura de todos aqueles materiais, uma tão próxima dimensão deste país sem fim. Mas que paisagem era esta com que agora me deparava? [...] Os lugares têm um carácter, uma alma; ali, num espaço interior, encontrava também esse ambiente de não-neutralidade de uma energia misteriosa, tensa e poderosa, tranquila. (Excerto de texto que integra a edição).